quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Numerais e a concordância


Muitas vezes, ouvimos pelos meios de comunicação informações que apresentam erros com o emprego de numerais. E acabamos reproduzindo o erro, à custa da sua repetição.

Hoje, vamos tratar de dois casos, para você reconhecer, entender  e colocar  em prática o correto, a fim de  permitir que outros aprendam  com seu  emprego.

Um deles está na formação  (ou deformação) da palavra: 
A equipe X  é vencedora  nesta 80.campanha pela ...  

A leitura correta do numeral deve ser: octogésima. O número-base, em latim,  é “octo”, do qual vieram  oito e o nome-base da espécie do polvo,  “Octopus”.   A contaminação pelo feminino do substantivo (campanha) provavelmente tenha levado ao engano do feminino da palavra (octa > octagésima) que não existe.  Daí o erro.

Outro erro está numa concordância enviesada.  Se ex-alunos de Letras estiverem lendo, trata-se de trabalhar com a concordância correta com o núcleo do termo e não com seu subsequente adjunto.  Veja esta frase correta: 

Dois funcionários da área de Marketing são encarregados do projeto.

O numeral (dois) concorda obrigatoriamente com o substantivo (funcionários). Da mesma forma, temos a palavra “milhão”, que tanto é numeral, quanto substantivo masculino.  Assim, um milhão, dois milhões, trezentos milhões. 

Na última semana, mais precisamente, ouvimos várias vezes, em diferentes canais  (com erro) Duas milhões de pessoas... Vão ser impressas 5 milhões de cópias...   A concordância correta é feita com a palavra milhão (masculina), como dissemos e não com o  termo seguinte (de pessoas, de cópias).  

As frases corretas seriam, portanto:
Dois milhões de pessoas, de caixas, de mulheres, de funcionárias, ...
e
Serão impressos  5 milhões de cópias, de faixas, ...

Não é fácil desaprender o erro e fixar o acerto, principalmente quando muitos à nossa volta erram.  Podemos citar muitos exemplos de situações em que temos de rever nossas ações e conceitos.  Esses casos com os numerais fazem parte delas.  É questão de superação.

Supere-se!



domingo, 25 de janeiro de 2015

Etimologia e criação de vocábulos

Propriedade vocabular (1)

Etimologia é a parte da gramática que estuda e explica a origem (o étimo) das palavras.  Uma língua viva, falada e escrita, apresenta a possibilidade de seus usuários criarem novas palavras sempre que não existir (ou se desconhecer) um vocábulo  melhor para traduzir o que se deseja.

Pelo fato de as crianças não terem um léxico (vocabulário)  muito grande, servem-se de “pedaços de informação de outras palavras” para criarem as suas próprias. Elas sabem, por exemplo, que o prefixo “in”  está ligado a palavras que – de algum modo – significam negação de algo: inquieto, invisível, impossível,... Por analogia,  criam inreal, incomido, inmentira...

Como ainda  estão formando seu léxico, faltam-lhes informações sobre os mecanismos das partes para a criação de uma palavra na íntegra.  Assim, inreal  é irreal; incomido  significa o que ainda não foi comido, ou foi apenas mordido, provado; inmentira  talvez seja  verdade.

Com o passar do tempo, vemos que esse prefixo pode significar, também, movimento de/para dentro: inspirar, importar, inflamável, ...    

Essa introdução serve para mostrar que adultos devem ter um vocabulário melhor. E ele é conquistado por leituras, exercícios de reflexão sobre palavras e sua criação. Buscar o significado de um vocábulo, certificar-se do significado dele, relacioná-lo com outros da mesma família, procurar sinônimos e antônimos é um exercício que certamente ampliará o léxico de uma pessoa que deve comunicar-se com precisão, clareza, propriedade, em qualquer língua viva. 

Não existe milagre nessa área; existem  pesquisa, intuição, inferência, percepção, relação, reflexão, ações que dão trabalho, mas melhoram a qualidade da produção de um texto, seja oral, seja escrito.

Agora, só como exercício, responda-me: Quando alguém, detentor de uma ótima informação, precisa torná-la conhecida de um número maior de pessoas, qual verbo será usado  para definir essa ação?  Essa pessoa deverá _____________ essa notícia. 

Preencha mentalmente a lacuna com quantos vocábulos conseguir e forem pertinentes.  Em seguida, confirme essa informação por dicionários.  Se quiser, mande a resposta para mim e eu a comentarei – se quiser, sem  ninguém saber que foi sua, claro!

Ótima semana!

Produção e revisão de textos

Qualidades de estilo (1): a objetividade



As qualidades de estilo  merecem ser valorizadas nos textos técnicos, acadêmicos, científicos e administrativos. São elas:  concisão, clareza, objetividade, simplicidade, propriedade, precisão, coesão, coerência, correção.

Hoje trataremos de uma delas na linguagem escrita dos seus textos: a objetividade.  Um texto objetivo é mais fácil de ser compreendido pelo seu interlocutor.  A objetividade trabalha, paralelamente, com a concisão. São quase irmãs. Enquanto a objetividade leva o receptor a perceber imediatamente a mensagem, a concisão permite entendê-la mais rapidamente, por ter sido veiculada com poucas palavras. Eis um exemplo bem comum do que deve ser evitado:
Vimos, pela presente, informar aos senhores que o pedido n.º  3467/15 foi   
despachado na data de ontem.   

Numa  época em que somos pressionados pelo tempo e prazos,  não podemos continuar a escrever num estilo menos objetivo, como fazíamos há 50 anos  - e era o estilo da época.

Lembro-me de fechos excepcionais usados em cartas e memorandos (os e-mails não existiam entre nós na década de 1980) que seriam risíveis hoje:
                       Sendo só o que se nos apresenta para momento, firmamo-nos
                        mui atenciosamente.
            O equivalente atual seria apenas:
                      Atenciosamente,

Com a objetividade e a concisão  necessárias para obtermos resultados mais rápidos, devemos evitar a prolixidez, ou prolixidade (uso desnecessário de muitos vocábulos),  e a tautologia (redundância). O texto proposto no primeiro exemplo, agora mais objetivo e conciso, seria:
            O pedido 3467/15  foi despachado em 24 .01.2015.

Não podemos, nem devemos confundir objetividade e concisão com grosseria, embora a cultura linguística brasileira nos leve à tendência à prolixidez. É preciso treino para a desejável objetividade.

Comece a reduzir a quantidade de palavras. Seu texto será lido mais rapidamente e atendido com mais simpatia.

Bom trabalho!  
                                             









  










domingo, 18 de janeiro de 2015

Preposições e suas relações

Entre e contra

As preposições, nas diferentes línguas ocidentais,  estabelecem relações entre palavras e orações, atribuindo-lhes significados, nos contextos em que se encontram.  Com a pressa na comunicação diária, pouca atenção damos a elas e,  às vezes, alteramos o sentido do que desejamos significar.

Quem de nós, ao estudar Inglês, não encontrou dificuldade em distinguir (e memorizar) várias delas? Só para lembrar: to look at, to look to, to look  for,  to look after,  to look into, to look  inside.  E,  em Português, “sair em férias” ou “sair de férias”?  Socorro!  

Além dos diferentes significados que elas possam atribuir às construções, devemos considerar seu emprego sintático. E isso tem que ver com a lógica da construção do pensamento.  

Quando bem empregá-las, afinal?  Hoje veremos,  sintaticamente, apenas duas, que apresentam confusão ao serem construídas com pronomes: entre contra.  São preposições que só regem complementos, nunca sujeitos. O que estamos dizendo?  Que elas sempre pedirão, como complementos, os pronomes complementos.  Eu tu são pronomes sujeitos: 
Eles trouxeram este pacote para tu entregares a teu irmão.
São providências necessárias para eu viajar.

Quais os pronomes complementos referentes a eu tu?  São: me ou mim e te ou ti.
                        Eles trouxeram este pacote para ti.  São providências para mim.

Como as preposições entre contra só regem complementos, em todas as situações em que elas ocorrerem, você construirá:
Esse assunto deve ser discutido apenas entre o cliente e mim.  (ou ...entre mim e o cliente. )
Pessoas despreparadas  sobre o assunto apresentam ideias contra mim e ti.

No caso específico dessas preposições,  os complementos serão sempre mim e ti. O emprego dos pronomes me e te veremos numa outra oportunidade. 

Uma tarefa para esta semana: procure em noticiários, entrevistas de rua, na fala de personagens de novela e em traduções ou dublagens de filmes mais exemplos e mande-os para mim.  Vamos discuti-los?

Bom trabalho! 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Respostas à Concordância

Em nossa página de 22 de dezembro de 2014, “Concordância – tão antiga (...)”, propusemos quatro questões. Você encontrou as respostas para elas? Caso as festas dessa época não lhe tenham permitido procurar, hoje chegam a você.

Guaraná – um guaraná ou uma guaraná?
            Bastante comum confundir-se a concordância do guaraná (fruto e bebida) com as das bebidas concorrentes, quase todas femininas.  Há alguns anos, a fabricante do guaraná mais antigo no Brasil veiculou uma campanha que trazia uma “galera” cantando “U tererê” e aproveitava para a fixação de “U guaraná”, isto é, o guaraná.

Óculos – meu óculos ou meus óculos?
            Embora as lentes sejam sustentadas por uma haste, óculos é uma palavra pluralia tantum (latim), ou seja, só usada no plural. O singular, óculo, significa olho. Existem outras palavras pluralia tantum em Português, entre elas: férias.  Minhas férias serão na Europa.  Assim, perguntaremos corretamente: Onde estarão meus óculos?  Meus óculos novos foram caros!  

Verbo haver - havia duas pessoas ou haviam duas pessoas?
            O verbo haver, com sentido de existência, ocorrência ou tempo decorrido, nunca irá para o plural, não importa o tempo em que estiver. A explicação é simples:   não existe sujeito para ele.   O correto será dizermos e escrevermos: 
Ø  com o sentido de existência - Havia duas pessoas na sala.  Houve três interessados.  Haveria  trinta inscrições se adiássemos o prazo até amanhã.
Ø  com o sentido de ocorrência – Houve dois acidentes na Marginal.   Se houvesse mais erros na produção, o pedido seria cancelado.
Ø  com o sentido de tempo decorrido -  Havia dois anos que ele estivera aqui. Começamos as pesquisas há quatro meses.

Verbo fazer e vocábulos terminados em -ema – fazer um telefonema ou fazer uma telefonema?
            O verbo fazer é bastante útil em nosso dia a dia. Devemos, entretanto, ter bastante cuidado no seu emprego, para evitarmos empobrecimento de nosso vocabulário.  Isso não é privilégio da nossa Língua.  No Francês, temos o verbo faire:  sert à tout faire (o verbo fazer: serve para se fazer tudo); no Inglês, o verbo to get,... Procure esforçar-se para usar o melhor vocábulo (precisão e objetividade): Vou telefonar. 

            Vocábulos terminados em -ema provêm, na maioria, do Grego e são masculinos em Português: o esquema, o cinema, o problema, o estratagema, o dilema, o teorema.  Ema e seriema, aves, são vocábulos femininos. O primeiro tem origem controversa e o segundo provém do tupi.  Não são da Grécia, portanto, e acredito que nunca estiveram por lá. 

Língua oral, língua escrita

Grosso modo [1] podemos tratar a comunicação em dois campos: o da língua oral e o da língua escrita.  Muito comum ouvirmos essa subdivisão em linguagem verbal e linguagem escrita.   É um engano que se pode corrigir: a linguagem verbal é a que se serve de palavras (do latim: verbum, palavra); portanto a linguagem verbal expressa-se com palavras, em oposição à linguagem não verbal, a que não usa palavras: gestos, expressões, ...

Quando falamos em língua, estamos trabalhando com o sistema que estrutura uma língua: são suas regras, a gramática.  Quando tratamos de linguagem, estamos no campo da realização particular de cada falante da língua considerada padrão[2].  Um executivo, em seu dia a dia, usa a língua escrita correta, sempre,  mas a oral permite adequação ao contexto – desde que não se reduza seu padrão. Afinal, a imagem do falante está em jogo.

Na simplificação do uso, falamos em língua oral (e não linguagem) quando sabemos que, mesmo na oralidade, existem normas para cada situação; o mesmo se dá com a língua escrita.

Resumindo, na comunicação escrita, um executivo escreverá:
Encaminhamos seu pedido em 02.01.2014, de acordo com  sua solicitação.

Na comunicação oral, dirá ao cliente:
            Mandamos seu pedido na sexta passada, como solicitado.                                                          ou       Seu pedido seguiu na sexta passada, como pediu.

Você chega  à conclusão de que o texto da língua escrita é mais longo do que o da oral. Correto!

Precisamos usar mais palavras para imprimir o tom e a modulação da voz de que a outra linguagem não dispõe.  Mas isso não significa que todo texto escrito seja  “pura enrolação”.  Veremos mais adiante que a objetividade, simplicidade e a concisão são qualidades imprescindíveis na língua escrita das comunicações administrativas.  E podem ser trabalhadas, treinadas em nosso dia a dia.

Veremos.





        [1] Grosso modo é expressão latina.  Corresponde, em português, à “de modo geral, em linhas  gerais”. Nunca se usa a preposição “a” antecedendo essa expressão em latim, pois a desinência (-o) contém-na. O mesmo ocorre em cursos de pós-graduação Lato sensu. Não se diz “a Lato sensu”.
        [2] Para mais informações, recomendamos: .
SAUSSURE, Ferdinand de.  Curso de linguística geral. 26., São Paulo: Cultrix, 2006. 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Plural de nomes compostos


         Os nomes compostos  (substantivos e adjetivos) sofrem flexão de número (singular/ plural) de forma diversificada: dependem da composição.   Vejamos alguns plurais referentes aos nomes mais comuns do nosso dia a dia.

        Quando os dois vão para o plural?

Os dois irão para o plural quando forem formados por:
               
  • dois substantivos (existe a conjunção "e" implícita entre ambos)                              

cirurgião-dentista  (cirurgião e dentista)  > cirurgiões-dentistas
            couve-flor  (couve e flor)  >   couves-flores

  • substantivo + adjetivo                       

cartão-postal      >       cartões-postais
            cônsul-geral       >       cônsules-gerais

  • adjetivo + substantivo                       

curto-circuito    >        curtos-circuitos
            pública-forma   >        públicas-formas

  • numeral + substantivo                       

segunda-feira      >       segundas-feiras
            meio-dia              >      meios-dias

       
         Quando só o primeiro varia?

Só o primeiro irá para o plural quando os nomes forem formados por:
       
  • termos ligados  por preposição (a preposição bloqueia o plural, mesmo quando estiver implícita)            

pé-de-moleque    >     pés-de-moleque
           figo-da-índia       >     figos-da-índia
                 
salário-família  (salário para a família)  >   salários-família
            vale-transporte (vale que serve para pagar transporte)   > vales-transporte
        
         Quando só o segundo vai para o plural?

Só o segundo vai para o plural quando forem vocábulos formados por:
  •   verbo + substantivo                           

           guarda-roupa    >      guarda-roupas
           papa-fila            >      papa-filas

  •  palavra invariável + palavra variável                   
          ex-funcionário       >      ex-funcionários 
          vice-diretor            >      vice-diretores

  •  adjetivo + adjetivo                            
          sócio-cultural     >    sócio-culturais 
          verde-claro        >    verde-claros

  •    palavra abreviada + substantivo          
            grão-duque      >       grão-duques
            grã-cruz           >       grã-cruzes

  •    palavras repetidas                             
            tico-tico        >            tico-ticos          
            reco-reco     >            reco-recos

  •    elementos não separados por hífen              
             vaivém        >             vaivéns
             girassol       >             girassóis
             Obs.:  no vocábulo "qualquer" pluraliza-se apenas o primeiro elemento: quaisquer. 


         Quando nenhum varia?

Nenhum dos termos se alterará quando os vocábulos forem formados por:
  •    palavras que não sofrem flexão nominal       
             o leva-e-traz       >       os leva-e-traz           
             o bateu-levou     >      os bateu-levou
(não recebem s para a formação do plural)
  •    palavras em que o segundo elemento já está no plural          
           o salva-vidas        >     os salva-vidas
           o guarda-costas   >     os guarda-costas

  •   adjetivos em que o segundo elemento é substantivo (do qual se toma a cor emprestada)

            paletó  azul-safira               >    paletós azul-safira
            camisa  verde-esmeralda   >    camisas verde-esmeralda
               (cores emprestadas não têm plural: meias cinza, blusas laranja)


Observação:   Há algumas palavras que fogem à regra, pelo uso que o povo determina.  Quando     houver dúvida, consulte o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.  Eis algumas delas: 

        o padre-nosso                 >   os padre-nossos (por analogia a ave-marias)
        um lenço azul-marinho    >  uns lenços azul-marinho
        um bem-te-vi                   >   dois bem-te-vis
        banana-maçã                  >   bananas-maçã/ bananas-maçãs
        navio-tanque                   >  navios-tanque/ navios-tanques
        corrimão                          >  corrimãos/ corrimões 
________
Fontes:
http://ww.academia.org.br
NADÓLSKIS, Hêndricas. Comunicação redacional atualizada. 13.ed.,São Paulo: Saraiva, 2013.