domingo, 22 de novembro de 2015

Sobre erros e desvios

E viva a "Pátria educadora"!


Atendendo a solicitações, aqui está o texto citado na página de 21.11.2015, que alguns consulentes e leitores não conseguiram acessar.  Máquinas!... 

Os livro mais interessante estão emprestado


PUBLICADO EM 13 DE MAIO DE 2011
A frase reproduzida no título do post parece ter sido pinçada de alguma discurseira de Lula. Não foi. Mas os autores do livro didático “Por uma vida melhor”, chancelado pelo MEC, decerto se inspiraram na oratória indigente do Exterminador do Plural para a escolha de exemplos que ensinem aos alunos do curso fundamental que  o no fim de qualquer palavra é tão dispensável quanto um apêndice supurado. O certo é falar errado, sustenta o papelório inverossímil.
A lição que convida ao extermínio da sinuosa consoante é um dos muitos momentos cafajestes dessa abjeta louvação da “norma popular da língua portuguesa”. Não é preciso obedecer à norma culta em concordâncias, aprendem os estudantes. Isso porque “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se trata de mais de um livro“. Assim, continuam os exemplos, merece nota 10 quem disser ou escrever “nós pega o peixe”. E só elitistas incorrigíveis conseguem espantar-se com a medonha variação: “Os menino pega os peixe”.
“Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas”, lamenta um trecho da obra. Por isso, o estudante que fala errado com bastante fluência “corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”. No Brasil Maravilha que Lula inventou e Dilma Rousseff vai aperfeiçoando, professores que efetivamente educam não passam de “preconceituosos linguísticos”. Haja idiotia.
“Não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação”, alega Heloísa Ramos, uma das autoras da afronta à inteligência e à sensatez. Em nota oficial, o MEC assumiu sem ficar ruborizado a condição de cúmplice. “O papel da escola”, argumentam os acólitos de Fernando Haddad, ” não é só o de ensinar a forma culta da língua, mas também o de combater o preconceito contra os alunos que falam linguagem popular”.
A professora Heloísa sentiu-se insultada com a perplexidade provocada pelo assassinato a sangue frio da gramática, da ortografia e da lucidez.  “Não há irresponsabilidade de nossa parte”, ofendeu-se. Há muito mais que isso. Há um crime hediondo contra a educação que merece tal nome, consumado com requintes de cinismo e arrogância. O Brasil vem afundando desde janeiro de 2003 num oceano de estupidez. Mas é a primeira vez que o governo se atreve a usar uma obra supostamente didática para difundi-la.
Poucas manifestações de elitismo são tão perversas quanto conceder aos brasileiros desvalidos o direito de nada aprender até a morte, advertiu o post reproduzido na seção Vale Reprise. As lições de idiotia endossadas pelo MEC prorrogaram o prazo de validade do título: a celebração da ignorância é um insulto aos pobres que estudam.
A Era da Mediocridade já foi longe demais.

sábado, 21 de novembro de 2015

Erros são apenas desvios? Devemos assumi-los como possibilidades de fala e de escrita? (I)

Após duas semanas  (e mais algumas que virão...)  de correções  de provas de concursos públicos da mais variada ordem de cargos, profissões e cursos,  lembrei-me de um artigo de Augusto Nunes em que o autor aponta o descaso com que se trata a concordância verbal e a nominal nas escolas, ratificada pelo livro didático aprovado pelo MEC  naquele ano (2011) com a anuência de alguns profissionais da área   (http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/os-livro-mais-interessante-estao-emprestado/). 

Certamente esse livro não fez aumentar o número de casos de falta de concordância verbal e nominal que encontrei nessas provas, mas, de 2011 para cá, só vejo crescer a liberalidade  - e um certo descaso - com que alguns professores tratam da questão, na enganosa litania de "Deve-se privilegiar a linguagem do aluno.". 

Disse enganosa litania?  Acrescento: pérfida, cruel.  Justifico:  a linguagem ainda é um altíssimo meio de discriminação pessoal e profissional.  E os erros de concordância são os mais visados em entrevistas e dinâmicas para a contratação de funcionários.  Quem, por exemplo, aprovaria um candidato que dissesse:  "Meus amigo 'stá empregado e eu ainda 'tô procurando..."

Afirmam alguns linguistas, num discurso mais político que pedagógico,  que desejamos impor ao povo a linguagem "de uma elite dominante".   Não se trata disso. Discrimina-se muito mais, quando não se busca elevar a linguagem do outro para o nível a que ele tem direito.  Em outras palavras, condena-se a pessoa a não sair do limbo linguístico.  

Quando se ensina ao aluno a flexibilidade das formas da linguagem, seus níveis sociolinguísticos, suas possibilidades e suas correções, atenuam-se os desníveis e aproximam-se as oportunidades.   Eleva-se, com isso, a dignidade humana.  

Veja-se, por exemplo,  a riqueza linguística de alguém que consegue falar errado por brincadeira num grupo de amigos, consegue entender-se com seus pares numa linguagem de tribo, consegue exibir uma linguagem padrão culta quando busca um emprego e, posteriormente, como profissional...   No dizer das mensagens comerciais: Isso não tem preço!

As gramáticas que apontamos em algumas páginas deste blog devem ser consultadas por todos, num esforço  de autodesenvolvimento.  Em especial, a Gramática Escolar da Língua Portuguesa, do Prof. Evanildo Bechara, oferece explicações completas e claras, com direito a exercícios que trazem respostas (na segunda edição, num livreto anexo à gramática).  

Reveja o conteúdo da concordância - tanto nominal quanto verbal - por partes, para absorver pouco a pouco seu conteúdo e colocá-lo em prática imediatamente.  Em seguida, não economize esforços em auxiliar a quem não tem acesso a essas informações, numa espécie de "corrente do bem". 

Tenho certeza de que seu trabalho será reconhecido e você se sentirá agraciado com as inúmeras possibilidades que permitirá ao outro. Em caso de dúvidas, não hesite em contatar-me. 

Bom trabalho.      


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Zica vírus e a microcefalia dos bebês

Notícias também devem servir como momentos de reflexão linguística.  Nesta semana, a microcefalia dos bebês, principalmente os de Pernambuco, esteve na boca de nossos repórteres, entrevistados, entrevistadores... 

Cabem aqui duas reflexões: 

a.  microcefalia - vocábulo de origem grega, como a maioria dos que estão ligados à tecnologia e ciências, significa pequeno (micro) cérebro (kéfale). Ajustando, numa quase   tradução livre,  é deficiência ligada à formação fetal, de origem neurológica, que reduz a     capacidade cerebral. Consequência disso são as dificuldades de aprendizagem, para     ficarmos em apenas uma delas.   Vários repórteres e comentaristas, nas mais variadas emissoras de rádio e TV, reproduziram  estas palavras:  

           A microcefalia dos fetos dos bebês acontece por conta do vírus Aedes Aegypti...

Em primeiro lugar,  esse hediondo por conta de,  de que já tratamos em uma outra página neste blog, quando o correto seria: em decorrência de, por causa de, devido a, ...

Em segundo lugar, dos fetos dos bebês... Pergunto a você:  bebês têm fetos? A microcefalia  dos bebês acontece... ou A microcefalia dos fetos ocorre...

Em terceiro e último lugar nesse trecho: Aedes Aegypti não é vírus. É mosquito. 

Certamente você está pensando: na pressa de se comunicar, ...  Falta treinar, pessoal, falta treinar pensar direito. 

b. malformação, má-formação  - há diferença no emprego dessas palavras. A malformação permite cirurgias para correção da deformidade;  a má-formação é uma deformidade congênita,  às vezes uma monstruosidade,  com raras possibilidades de recuperação.  No caso da notícia, o mosquito causa má-formação (será isso mesmo?). 

Como você pode ver, comunicar obriga o comunicador, o emissor, a ter vocabulário.

Cuide-se! 




quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Avisos com erros de concordância e ortografia.

Em nosso dia a a dia,  lemos artigos, avisos, placas, sinalizadores, bâneres (sim, como
açúcares), fôlderes (idem), volantes e similares - quando não, são falas de pessoas
públicas  -  com erros das mais variadas ordens que, devido à sua repetição, acabam
causando-nos  dúvida, ou induzindo-nos a erros. Hoje veremos apenas dois deles: 


É proibido? É permitida?

As expressões "é permitido", é proibido", "é necessário", "é bom" e similares não variam, 
quando o substantivo a que se referem vier indeterminado, isto é, sem artigo ou pronome
que o defina.  Exs.: 

          É proibido entrada de menores.            É proibida a entrada de menores.
          Coragem é necessário para isso.           Muita coragem é necessária para isso.  

          Ø  Sem o artigo que o preceda, o substantivo ganha status de verbo, por isso 
              empregamos o masculino: 

                          Não é permitido entrar neste local. 
                          É necessário  ser corajoso para isso. 


Ortografia

Como dissemos em páginas anteriores, o emprego do hífen é caso de muitas orações...
Consulte sempre o Vocabulário Ortográfico (VOLP) da Academia Brasileira de Letras.  

Recebemos visitantes em nossa empresa e  surge a necessidade de registrarmos a intenção de que eles estejam bem conosco.  Desejamos-lhes, então: 

                   Bem-vindo!                     Boas-vindas!


Outro engano tem ocorrido com o "a" ou "à".  Veja este erro: "Para ser atendido, aguarde á chamada." 

O "a" pode ser artigo (A candidata chegou.), pronome pessoal (Eu a  vi na recepção.), pronome demonstrativo (Ela é a que está em pé, perto da entrada.) ou preposição (Ela está apenas a um passo de ser contratada.).  O "à" é uma crase entre uma preposição ("a") e um artigo ("a"): num processo de fusão dos dois, escrevo apenas um e marco-a com o acento grave (`).  Assim, Vamos  à entrevista.  

Diante disso, cabe dizer que não existe "á" na Língua Portuguesa. E "ás" é uma pessoa muito boa em sua especialidade:  Senna foi um ás ao volante. 

O cartaz na chamada aos candidatos, corretamente grafado,  é: 

              Para ser atendido, aguarde a  chamada.   

A crase veremos numa próxima edição.

Boa semana! 









sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Impropriedades (III)

A etimologia ajuda-nos a esclarecer significados e a evitar o uso indevido (impróprio) de expressões e vocábulos. Hoje veremos   deferir x diferir,  muito empregados na linguagem jurídica.   


Deferir x diferir

Ambos os vocábulos  são construídos sobre a mesma base: -ferir-. Essa raiz provém de um verbo do Latim cujas formas primitivas são: fero, fers, tulli, latum, ferre. À semelhança do que aprendemos quando estudamos inglês, as formas primitivas auxiliam-nos na conjugação dos tempos delas derivados.  Esse verbo é empregado com o sentido básico de levar, carregar, portar,...  Entre outros, ele forma vocábulos como: aurífero, ferrífero, auferir, proferir, referir  e deferir, diferir, que  são o assunto de hoje. 

Os prefixos  de(s)- e di(s)- acrescentam à raiz (ferir) significados específicos. Oriundo do grego,  dis- indica dificuldade, disfunção, privação, mau êxito, mau fim. Ex. :
          dispneia, disenteria, dispepsia, disfasia, dislalia,...

Do Latim, os prefixos de- de(s)- di(s)-  indicam, respectivamente: movimento para baixo, separação, negação, como em:
          decapitar, decair, deportar, degelo, dejeto, depor,...

ou, ainda, negação, ação contrária, separação, afastamento, como em: 
          desquite, desventura, descosturar, desmontar, discórdia, discussão, ...

Assim, deferir traz estes significados, de acordo com o Dicionário de Caldas Aulete (1):
 
1. Atender a; dar despacho favorável a [td. deferir um requerimento] [tr. + a : O
   
juiz deferiu ao pedido de habeas corpus]
2. Oferecer (prêmio, privilégio etc.); CONCEDER [tdi. + a 
 empresa deferiu bônus aos melhores funcionários]

Diferir, por sua vez, pode ser entendido como (2):
 
1. Apresentar-se diferente; DISTINGUIR-SE [tr. + de Difere de todos os parentes.] [int. : É
 difícil dois irmãos diferirem tanto.]
2. Não concordar; DISCORDAR; DIVERGIR [tr. + de, entre Diferiam entre si, mas 
conversavam muito.] [int. : Tentam chegar a um acordo, mas ainda diferem bastante.]
3. Adiar, postergar [td. Diferiu a data do casamento.]. 

Como vê, embora parecidos na forma, seus significados diferem.  E, se busca  
aprovação,  é  melhor pedir deferimento.

Um exercício muito bom, para ampliar seu vocabulário, consiste em buscar o 
maior número possível de vocábulos que você poderia derivar dos radicais acima 
com o auxílio de outros prefixos e, com os prefixos de hoje, construir vocábulos, 
recuperando aqueles esquecidos na e pela rotina de seu trabalho diário. 

Bom fim de semana.   

____________
1  Consulte:  http://www.aulete.com.br/deferir 
2   http://www.aulete.com.br/diferir


sábado, 19 de setembro de 2015

Este x esse x aquele - Cuidado com "o mesmo"

Dêiticos (mostradores) anafóricos e catafóricos.

Em nossos discursos, sentimos necessidade de apelar para as referências num esforço de reunir mesmas ideias sem repeti-las.  Para tanto, empregamos pronomes ("palavras que substituem nomes").  

Os mais comuns são os pessoais: eu, tu, ele, ela,  nós, vós, eles, elas; me, mim, comigo, te, ti, contigo; o, a, lhe, se, si, consigo; nos, conosco; vos, convosco; os, as, lhes.  Seguem-se os demonstrativos (dêiticos): este, esta isto; estes, estas; esse, essa, isso; esses, essas; aquele, aquela, aquilo; aqueles, aquelas, que podem juntar-se a (ou fundir-se com) preposições: deste, nesse, àquele.   Os demonstrativos de reforço fazem parte desses últimos: o mesmo, a mesma, os mesmos, as mesmas - mas, cuidado, pois não podem funcionar em lugar dos pessoais, por servirem apenas de reforço.  Empregar esses demonstrativos de reforço como pessoais é uma impropriedade. Um exemplo desse erro fez parte de uma página do Orkut  com o título de "Eu tenho medo do mesmo", nascido das placas de advertência nos elevadores: 
                                 Senhores usuários/passageiros
          Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se 
          parado neste andar.(1)  
      
Com a brincadeira, buscou-se mostrar que "o mesmo" era um monstro e os usuários dos elevadores deveriam ter cuidado ao neles entrarem, para que "o mesmo" não os pegasse.  Brincadeira à parte, não se empregam esses demonstrativos de reforço em lugar do pronome pessoal. O emprego correto, no dia a dia, seria: 
          Deixe esse material aí, pois eu mesma levarei para a reunião com o cliente. 
          Ele mesmo trouxe as informações de que precisávamos.
          Pediram-nos que nós mesmos déssemos a notícia ao fornecedor.
          Isso é atribuição delas, delas mesmas

Dêiticos anafóricos (aná, em grego, significa movimento para cima, para trás, separação) são aqueles pronomes que apontam para algo que foi dito ou escrito:

          Lembra-se daquele brinquedo que demos ao Luís, no aniversário desse?
  
Os dois anafóricos negritados referem-se ao passado:  daquele prende-se a um passado vivido pelo emissor e receptor da mensagem; desse refere-se a uma criança cujo nome foi dito: Luís.  Num texto empresarial, teríamos: 

           Compramos duas empilhadeiras para o novo depósito.  Essas máquinas 
           chegarão na próxima semana.

Se você fizer menção ao que passou no texto, ao que foi dito, ou ao receptor, usará os anafóricos : naquela data, desse setor (do receptor), daquela empresa (de uma terceira pessoa).     

Dêiticos catafóricos (catá, em grego, significa movimento para baixo, para diante)  são aqueles pronomes que apontam para algo que será dito ou escrito:

          Contaram-nos isto: os preços serão novamente reajustados neste mês. 
          Só estes gerentes participarão da feira: Henrique, Magno e Sidney.

Como você pode perceber, os catafóricos geralmente pedem dois pontos, por anunciarem o que será dito.   Num relatório, num e-mail,  ou na redação de um TCC,  os catafóricos apontam para quem assina, para quem é responsável  por aquele texto (do emissor): este autor, desta área, nesta cidade.  

Se você fizer menção ao que passou no texto, ao que foi dito, ou ao receptor, usará os anafóricos: naquela data, desse setor (do receptor), daquela empresa (de uma terceira pessoa).  

Neste fim de semana (porque ainda estamos nele), corrigirei algumas provas.  Essas (ou não coloque nada, nesse local, porque não há necessidade - continuo falando das provas) foram feitas na semana passada e referem-se à seleção para  auxiliares administrativos desta empresa. Fui clara?  

Boa semana. 


__________
(1)  Esse texto, bem analisado, apresenta cinco erros: dois de concordância, um de pontuação (falta uma vírgula obrigatória) e duas impropriedades.  

domingo, 13 de setembro de 2015

Sintaxe: acréscimos desnecessários

Hoje enfatizo algumas construções (incorretas) muito comuns nos trabalhos que li recentemente e na boca de alguns palestrantes que ouvi.  O assunto não é novo: havia tratado dele na postagem de 12.07.2015, sob o título "O quê e a falsa regência". 

Em nossos discursos orais, costumamos empregar mais palavras de reforço do que nos escritos.  Isso se deve ao fato de haver necessidade de firmarmos conceitos, explorarmos explicações que têm de ser fixadas nesse tipo de comunicação.  Embora nos cerquemos da linguagem não-verbal para completar lapsos de vocabulário e de memória que possam ocorrer em nossa comunicação, repetimos vocábulos e estruturas, além de criarmos âncoras (marcadores conversacionais) para mantermos o interesse do nosso ouvinte - ou ganharmos tempo para a construção do próximo pensamento e elocução. 


Parece complicado o que acabei de afirmar? Talvez este diálogo possa esclarecer: 

          - Então, Pedro, o que foi decidido?
          - Bem, na verdade, ainda não houve decisão... Hummm, talvez mais tarde, bem, temos de decidir logo,  mesmo porque não podemos esperar mais. 

Essa é a expressão da oralidade seguida, certamente, de gestos, expressões faciais, tonalidades de voz, apesar de não registramos - por escrito - o conteúdo do diálogo dessa forma.  E não podemos nos esquecer de que, à custa de tanto usarmos determinadas palavras, construções  e expressões na língua oral, acabamos por registrá-las por escrito. 

Você se já ouviu empregando as expressões abaixo? ou as leu nos seus textos escritos? 

                    mesmo porque, até porque, quase que, enquanto que...

Todas elas trazem acréscimos desnecessários para a compreensão dos textos, além de estarem com erros de construção.  Diretamente ao ponto: 
          mesmo porque - porque é conjunção e, na L.Portuguesa, não existe palavra que 
          caracterize conjunção; assim, o correto é usar apenas porque;
                   
          até porque  - mesma explicação; a preposição "até" não se justifica ao lado do 
          porque;
          
          quase que - quase  é advérbio e, na L.Portuguesa, não existe palavra que a 
          caracterize.  O  que é uma das âncoras de que falamos acima; basta empregar 
          apenas o quase; 
                   
          enquanto que  - enquanto é conjunção com valor temporal. Não há o emprego 
          com o  que.  A existência dele, ao lado do enquanto,  só se justifica como âncora. 
          Use apenas a conjunção. 

Veja agora, as construções erradas e, em seguida,sua redação correta; 

Errado:   Não discutiremos até sábado, mesmo porque a reunião foi marcada para sexta.
Correto:  Não discutiremos até sábado, porque (pois) a reunião foi marcada para sexta. 

Errado:   Estudaremos amanhã, até porque depois de amanhã será a prova.
Correto:  Estudaremos amanhã, porque (pois) a prova será depois de amanhã. 

Errado:   Quase que eu contei as alterações propostas. 
Correto:  Quase contei as alterações propostas.

Errado:   Faça o esboço da proposta, enquanto que eu refaço os cálculos. 
Correto:  Faça o esboço da proposta, enquanto refaço os cálculos.    

Como pode ver, a linguagem simples, sem afetação, é sempre a melhor e mais fácil de ser construída.  Separe da escrita a língua oral, quando precisar apresentar um nível melhor de linguagem.

Boa semana, com bons textos. 

sábado, 5 de setembro de 2015

Cariocas e paulistas: vocês querem que eu falo com eles?

A velha divergência linguística entre paulistas e cariocas tem aparecido com maior frequência ultimamente, na queixa desses últimos. Desta vez, em frases como a do nosso título e mais:
          - Você quer que eu vou?
          -  Paulo,  quer que eu faço? 
           
Paulistas e paulistanos: desta vez tenho de concordar com os cariocas.  O que está acontecendo conosco?  Faltam-nos noções de conjugação verbal.  Vamos tentar recuperar as construções corretas e deixar os cariocas felizes? 

Emprego o modo indicativo, quando quiser exprimir  realidade, certeza, seja no presente, no pretérito, no futuro:

          Amanhã irei até o cliente e resolverei a questão. 
          Ontem estivemos em visita à fábrica e vimos o estoque muito baixo. 
          Procuro um profissional que saiba lidar com isso efetivamente. 
           

Empregarei o modo subjuntivo quando quiser exprimir dúvida, incerteza, hipótese, possibilidades, no presente, no pretérito e no futuro: 

          Talvez eu à fábrica na próxima semana e verifique nossos estoques locais.
          Se eu fosse você, conversaria com os clientes e reajustaria seus pedidos. 
          Quando terminarmos os levantamentos, teremos os números finais dos                                      investimentos. 

Os vocábulos assinalados em vermelho pressupõem dúvida, incerteza, possibilidade, por isso levam os verbos para o subjuntivo (conjuntivo em Portugal e Espanha).   Se eu estiver certa de que as situações ocorrerão, usarei o indicativo: 

          Eu vou (ou irei) à fábrica na próxima semana...
          Como sou muito parecida com você, conversarei com os clientes...
          Terminaremos os levantamentos e ... 

Vamos deixar bem claras as finalizações.  Se eu souber, se estiver certa do que acontece, aconteceu, ou acontecerá, empregarei o indicativo: 

               (Deixe que) nós visitamos a fábrica.  
               Paulo, (deixe que) eu converso com o cliente.
               (Deixe que) terminamos (ou terminaremos) essas planilhas. 

Se eu não souber, não tiver certeza do que acontece, aconteceu ou acontecerá (por isso pergunto a alguém se, se ele quer que...), usarei o subjuntivo: 
   
               Você quer que eu fale com eles?
                Paulo, você precisa que eu faça o levantamento? 
               Ana Carla, vocês querem/desejam que nós perguntemos ao cliente?

Cariocas queridos:  vocês querem que eu fale com os paulistas e os corrija? Este texto serviu para isso. 

Um abraço.