sábado, 25 de julho de 2015

Hífen para o bem e o mal

Se há um assunto que nos desespera, em matéria de Língua Portuguesa, é o emprego do hífen.  E, se eram ruins as explicações antes do Acordo Ortográfico de 2009, depois disso as justificativas para a ocorrência dele beiram o exaspero.   Poucos casos fazem sentido para nós  e reclamar não resolve as dúvidas.   O melhor a fazer é consultar o sítio da Academia Brasileira de Letras (1) e encontrar a grafia do vocábulo.

Um aluno pergunta-me a respeito do bem e do mal. Quando empregamos hífen com eles?

Bem

Bem, como prefixo, sempre exige o hífen: bem-arrumado, bem-educado, bem-feito, bem-  -querer, bem-sucedido. Isso está no AOLP, mas há  compostos em que o bem  aglutina-se ao vocábulo seguinte: bendizer, benfazer, benfeitoria, benquisto.      

Pergunta inevitável: Sabemos como  e quando isso ocorrre?  Com certeza, não. Só o tempo responderá pelo uso que se estabelece. 

Mal

Mal, como prefixo, exige hífen antes de vocábulos começados por vogal, h e l: mal-agradecido, mal-afamado, mal-estar, mal-humorado, mal-lavado.


Importante: quando bem e mal  forem usados como advérbios, ficarão separados; não se juntarão por hífen, nem se aglutinarão (2): 

                    Um teste bem elaborado, mas mal aplicado, traz prejuízos.
                   Seu questionário bem conduzido reverterá em entrevistas preciosas. 
 

Para os casos de dúvidas, repito: consultem o VOLP e os dicionários de Caldas Aulete (3) ou de Antonio Houaiss (4). 


De resto, como costumo brincar em aulas: só jejum e oração.


Uma ótima semana.    

 




_________
(1) http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario?sid=23 .
(2) Veja mais a respeito do hífen em: http://www12.senado.gov.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/hifen .
(3) http://www.aulete.com.br
(4) http://houaiss.uol.com.br/

Plurais negligenciados (I)

Nos últimos meses tenho encontrado com muita frequência erros na concordância nominal com alguns vocábulos, em textos de executivos.  Para corrigi-los, vamos começar com dois deles: qualquer e referente


Qualquer 

Qualquer é pronome indefinido formado por dois elementos: qual e quer.  O primeiro deles é pronome relativo e, como tal, flexiona (tem plural), concordando com o nome a que se liga sintaticamente; 
          Qual aluno foi encarregado do cartaz sobre a exposição?
          Quais alunos participarão do concurso?
O segundo (quer) é verbo conjugado na 3.ª pessoa do singular do presente do Indicativo.  Por ser verbo, não tem flexão nominal (plural com -s).  Por estarem ligados, apenas o pronome flexionará: quaisquer. Assim teremos:

                     Qualquer informação será bem-vinda. 
                     Estamos à disposição para quaisquer dúvidas a respeito do contrato. 


Referente 

Referente é adjetivo e, como tal, sofre flexão nominal (masculino, feminino, singular, plural).  Como termina em -e  não se altera para o masculino e feminino, como em: rapaz inteligente, menina brilhante,  proposta interessante,  documento ambivalente.  Flexiona, entretanto, no plural:  rapazes inteligentes, meninas brilhantes, propostas interessantes, documentos ambivalentes.  Por isso, referente  vai para o plural, concordando com o substantivo a que se liga sintaticamente. Observe: 

                    A carta-proposta referente à venda de alumínio foi assinada por Júlio. 
                    As alterações referentes aos preços foram contempladas no e-mail
                    Encaminhei ao cliente  a nova lista de preços referente a agosto de 2015.

Certamente você deve ter visto alguns desses plurais negligenciados.   Reveja seus 
e-mails e corrija o que for necessário. Revise com cuidado esses plurais. 

Boa semana.   

domingo, 12 de julho de 2015

O "quê" e a falsa regência

Em nossos textos (orais e escritos) usamos e abusamos dos "quês".  Eles são muito práticos e ajudam-nos na coesão sintática. Na língua oral, especialmente, prendemos a atenção de nossos ouvintes à espera de uma continuidade do discurso. 

Na língua escrita, entretanto, devemos ter muita cautela em seu emprego, pois o uso abusivo leva o leitor ao cansaço e à ambiguidade textual. Ex.: O livro do aluno que estava na sala de música foi visto na sala de ginástica.

Além do desconforto do trabalho de ressignificar o texto e encontrar seu verdadeiro objetivo, perdemos a linha condutora da informação e gastamos mais tempo na comunicação, o que lhe contraria as qualidades básicas desejáveis: objetividade, clareza e concisão.

Como dissemos em várias aulas sobre construção textual, o ideal de uma mensagem forte, impressiva, convincente está em empregarmos um"quê" a cada três linhas (folha A4, fonte arial, tamanho 12). A cada novo "quê" acrescentado, abre-se a oportunidade de  novas interpretações e riscos de derivações e divergências. 

Além desse inconveniente, devemos ter cuidado com outros "quês" e seus correlatos (porque, já que,...). Eles se juntam, sub-repticiamente (com hífen), a outros vocábulos  formando construções condenáveis em redações nas quais se exige qualidade e correção.  Vejam estas impropriedades morfossintáticas:  
          mesmo porque, até porque, quase que, enquanto que.

Estão erradas, portanto, estas ocorrências: 
          O sistema de saúde no Brasil é falho,  mesmo porque faltam médicos e instalações             decentes para a prática da Medicina. 
          Deixamos de atender o cliente até porque ele atrasou o pagamento neste mês. 
          Ele quase que contou, na reunião, o que sabia sobre a proposta do concorrente.
          Entregaremos parte do pedido, enquanto que o resto vai sendo produzido.   
           
As corretas - e desejáveis - estão aqui:

          O sistema de saúde no Brasil é falho, porque faltam médicos e instalações                               decentes para a prática da Medicina. 
          Deixamos de atender o cliente porque (ou pois) ele atrasou o pagamento neste                          mês. 
          Ele quase contou, na reunião,  o que sabia sobre a proposta do concorrente.
          Entregaremos parte do pedido, enquanto o resto vai sendo produzido.

Aqui vai um convite para esta semana:  procure retirar os excessivos "quês" de sua comunicação escrita.  Você verá, aos poucos, não apenas os gerúndios e as frases longas deixarem seu texto e darem lugar à concisão, clareza, objetividade, simplicidade, como também uma comunicação sadia e gratificante nascer em seu lugar.  

Boa semana!



domingo, 5 de julho de 2015

Fraseologia latina (II)

Expressões em Latim


Hoje daremos continuidade à fraseologia latina, a pedido de um ex-aluno de MBA cujo líder gosta de empregar latinismos em reuniões. 


Ad multos annos vivas!  - que tu vivas muitos anos! Ao cumprimentar alguém por ocasião de seu aniversário, com essa expressão desejamos vida longa a ele.


Aequo animo (pronuncia-se /équo ânimo/) - com mesmo ânimo, com ânimo igual, com mesma disposição:  
               Há mais de 30 anos ele trabalha com atendimento ao cliente aequo animo.

Amicus Plato, sed magis amico veritas  Platão é amigo, mas mais amiga é a verdade. Provérbio citado para exprimir que a autoridade de um grande nome (como o de Platão) não basta para impor uma opinião; é necessário que ela esteja de acordo com a verdade (ou seja verdadeira), para que a aceitemos. 

Ave, Caesar - Salve, César! Expressão para cumprimentar à entrada em local onde haja o líder (César). Quando sair, diz-se: Vale, Caesar!  - Tenha saúde/ passe bem, César!, numa tradução livre. 

Et caetera (ou et coetera) (pronuncia-se /et cétera/) - abreviada por meio das três primeiras letras, significa  outras coisas, e o resto.  Use  a expressão  apenas, de acordo com o significado, para sequência de coisas: 
               Na loja de material de construção, compramos cimento, cal, pedregulhos etc.

Obs.: embora alguns linguistas admitam o etc.para pessoas e coisas, a melhor expressão está em empregá-la apenas para coisas, elementos, lugares, situações.  Para a sequência de pessoas, prefira: e outros, entre outros. Ex.:  Pedro, Luís, Sílvia, entre outros, participarão da reunião com o pessoal da matriz.   É importante observar que, na língua oral, o etc. substitui  resto de discurso, às vezes numa sequência caótica, na pressa que sentimos na elocução de uma ideia: 
                No ano passado viajamos para a Europa. Foi maravilhoso!  Pudemos conhecer
                Paris, a Torre Eiffel, Veneza, a Fontana de Trevi, Pompeia, Roma, Londres, 
                o Palácio de Buckingham etc.   

Veja que, na sequência, apresentam-se nomes de cidades, monumentos, pontos turísticos de modo caótico, à medida que as lembranças afloram.    Na escrita, entretanto, cuidado. Organize os dados: do geral para o particular, ou do particular para o geral. Ex.: 
               No ano passado, viajamos para a Europa. Foi maravilhoso! Pudemos conhecer
               França, Itália, Inglaterra; em Paris, visitamos a Torre Eiffel; na Itália,
               conhecemos cidades como Roma, Veneza, Pompeia; em Roma, a Fontana
               de Trevi e, na Inglaterra, apenas Londres e o Castelo de Buckingham.

Importante:  O mesmo deve ser observado quando você estiver enumerando objetivos nos seus trabalhos de TCC, Mestrado, Doutorado, nos itens de uma proposta: do maior para o menor, ou do menor para o maior.  A experiência, entretanto, tem-nos mostrado que, ao se enumerarem itens dos gerais (maiores) para os particulares (menores), torna-se mais fácil a redação e a completude do trabalho.

Na oralidade, com a pressa que a fala exige, atropelamos um etc. com outro etc. Ex.: 
               Ontem tivemos duas reuniões, recebemos três visitas de clientes, um                                        almoço de negócios  etc., etc., etc. Foi um dia terrível!

Como a ansiedade é grande para o término da sequência, ao enunciarmos os etcs., comumente ouvimos seu complemento: e tal. Como o tal  é um pronome demonstrativo (tal pessoa, tais pessoas), precisa concordar com o etc. (e outras coisas) que ele acompanha.  Mesmo na pressa do discurso, deveremos dizer: ... etc., etc., etc. e tais.   Estranhíssimo, não? Mas correto.   

Três últimas informações a respeito do etc.: 

  • como a abreviatura concentra um "e" (et), não se emprega o "e" antes dela;      Errado: Compramos frutas, legumes e etc.                                                         Correto: Compramos frutas, legumes etc.
  • pelo mesmo motivo, não se emprega vírgula antes do etc.: Lemos os diferentes relatórios, discutimos alguns itens deles, refizemos algumas cláusulas etc.               Obs.: na repetição do vocábulo, a vírgula aparece pela repetição, não pela abreviatura;
  • como o etc. exige o ponto do corte da palavra para formar a abreviatura, não se emprega  um ponto  a mais quando estiver em final de frase. O ponto da abreviatura serve como ponto final da frase.  Isso ocorre com outras abreviaturas em mesma situação:   Os pagamentos deverão ser efetuados no Banco do Brasil S.A. 

        
Inter caetera (ou coetera) (pronuncia-se: /inter cétera/) - entre outras coisas:  
               Na reunião, Pedro levantou as dúvidas dos clientes sobre condições de
               pagamento e prazo de entrega de produtos, inter caetera. 

Finalmente, por estarmos em época de férias escolares, desejo-lhe bom descanso, bons passeios, boas leituras livres inter caetera.