domingo, 31 de maio de 2015

Impropriedades

Impropriedades vocabulares

Consideram-se  impropriedades vocabulares as palavras ou expressões que aparecem em textos com  engano de significado.  Mais simples, consistem  em dizer uma coisa em lugar de outra. Ex.: ratificar (confirmar) por retificar (corrigir, acertar)

Na redação empresarial de todos os dias e no vocabulário de muitos âncoras de telejornais, lemos e ouvimos várias impropriedades que depreciam o texto de seus autores.  Hoje veremos algumas delas: 


Adiar: antecipar ou postergar

Adiar significa alterar o dia, que pode ser - especificamente - antecipar ou postergar uma data. Ex.: A reunião de amanhã foi postergada para a próxima quarta-feira. Manteremos o horário e local

Ao encontro de  x de encontro a

Ir ao encontro de significa ir até encontrar o outro, ir a favor de. Ex.: Suas ideias vêm ao encontro das nossas (= você tem as mesmas opiniões que nós). 

Ir de encontro a significa ir contra. Ex.: Suas atitudes vêm de encontro a seu discurso (= ele diz uma coisa e faz outra). 

Ao invés de x em vez de

Ao invés de mantém relações frásicas de oposição, inversão (atenção aos verbos). Ex.: José, ao invés de subir ao escritório do Pedro, desceu ao escritório de Júlio. De emprego menos comum, a expressão não pode ser confundida com 


em vez de, que mantém  relações frásicas de substituição (novamente: verifique os verbos). Ex.: José, em vez de conversar com Pedro no escritório, preferiu resolver a questão por telefone. 

Às vezes  a impropriedade chega a ser de interpretação divertida.  Considere uma pessoa que lhe diga: "Espere um pouco porque vou-me trocar". Se considerarmos a precisão, a propriedade vocabular, ninguém "se troca".  Troca-se a roupa, ou peças de roupa: gravata, sapatos, camisa, saia, calça...  O correto, o desejável seria: "Espere um pouco porque vou trocar a roupa." Seria muito bom se, quando cansados, pudéssemos  trocar-nos  por um alter ego mais descansado, não? 

Comece a registrar quantas impropriedades repetimos ao dia -  sem percebermos -   que poderiam muito bem ser substituídas pela palavra ou expressão mais adequadas.  

O assunto continuaremos numa próxima oportunidade.  Por enquanto treine o acerto nas que apontamos hoje. 

Bom trabalho! 

domingo, 24 de maio de 2015

Cuidados na redação de um e-mail

     O assunto de hoje nasceu do pedido de vários alunos executivos que se desgostam de atitudes não condizentes com a objetividade e qualidade do que se busca nas redações empresariais. 

     Nascida da sabida cordialidade do brasileiro, torna-se prática comum responder a tudo o que lhe for enviado.  E nem sempre  necessário. Aqui estão alguns lembretes* para se evitarem desgastes  e ganhar-se tempo na comunicação:  

     1. quando um e-mail for enviado a uma pessoa com cópia para várias, quem receber cópia não deve responder nem a quem mandou,  nem ao grupo todo se não lhe for solicitado. A atitude de sempre responder a tudo e a todos duplica, triplica, quadruplica o número de mensagens inúteis e acaba por congestionar o sistema na empresa; 
     
     2.  se o e-mail for enviado a várias pessoas, responda (se for necessário) apenas para quem o enviou.  O grupo todo não precisa saber que você recebeu a mensagem, que você leu, que vai pensar a respeito, que agradece o envio, que você deseja a ele um ótimo fim de semana etc.; 
     
     3.  se o e-mail tratar de uma convocação para a reunião de um grupo do qual você faz parte e dela não puder participar,  ou se houver algo a dizer a quem o convocou, responda apenas a quem lhe mandou a mensagem; 

     4. há e-mails que, pela natureza do conteúdo, exigem que outras pessoas recebam cópia. Isso não significa que você deva, obrigatoriamente, responder.  A maioria desses e-mails serve apenas para avisá-lo de que houve uma comunicação; 
    
     5. se for fazer uma consulta a várias pessoas sobre um assunto que está sendo desenvolvido por elas nas suas diferentes especialidades, opte por colocá-las todas como destinatárias e, no corpo do texto, destaque o que vai pedir a cada uma delas (sem o sinal de "@" antes do nome de cada uma). Basta destacar os nomes com negrito ou pintá-los de amarelo. Elas poderão responder ao lado das indagações do emissor, com cor diferente do texto original; 

     6. caso queira mandar cópia a alguém no seu e-mail, pergunte-se antes se é necessário a essa pessoa saber o que está sendo tratado naquela mensagem. Se for apenas útil a informação, mas desnecessária, não mande essa cópia.  Se houver necessidade, mais tarde, mande apenas a ela, com ENC; 

     7.  se você houver pedido algo a alguém e não tiver obtido a resposta, opte por telefonar a essa pessoa e explicar-lhe a importância da resposta.  Se, mesmo assim, não conseguir o que deseja  ou precisa saber, leve pessoalmente a questão para o líder imediato a quem você responde.  Ele resolverá o assunto com o líder da pessoa que lhe deve a informação. Nunca envie uma mensagem de cobrança (mesmo se for a terceira vez que lhe cobre a informação) com cópia para o líder dele. É falta de elegância, de ética profissionais; 

     8. atualize o assunto.  Não delegue ao receptor a tarefa de mudar o assunto, quando precisar arquivar as respostas. Mantenha o assunto original e, quando necessário, acrescente-lhe o que houver de novidade. Ex.:   
          Re: ENC: Tabela de preços com atualizações. Novos índices para discussão. 
     Como receptora, entenderei que houve uma resposta sobre a tabela de preços com atualizações. Em seguida, o emissor optou por me encaminhar a mensagem com novos índices. 

     9. por último - mas não finalmente, pois voltaremos ao assunto quando for necessário - você mesmo, que mandou a mensagem e recebe as respostas, não mande um novo e-mail, agradecendo aos que lhe responderam. 

     Tempo é precioso hoje, quando somos solicitados para várias atividades.  Respeite o seu e o do outro, mantendo sua mensagem breve, objetiva e despoluída.  Todos lhe agradecerão. 

     Bons e-mails na semana!


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* Agradecimentos especiais ao pessoal de TI da Reitoria do UNISAL.

sábado, 16 de maio de 2015

Ouvir x escutar. Falar x dizer x conversar

   Questões semânticas novamente 


Em nossa vida diária, tendemos a repetir o que mais ouvimos ao longo de nossa vida e nos contextos em que estivemos. Registramos, desde cedo, o que nos dizem. Raramente vamos em busca do significado dos vocábulos que empregamos - a não ser que nos tenham corrigido e, por isso, começamos a desconfiar do que dizemos e escrevemos.

Hoje vamos relembrar o emprego de cinco verbos que nos acompanham diariamente: ouvir, escutar; falar, dizer, conversar. Embora sejam sinônimos no grupo, apresentam significados diferentes.

O primeiro grupo (ouvir, escutar) está ligado à atenção maior ou menor que se dá a um som. Ouvir é proveniente do verbo audire (latim):  perceber pelos ouvidos. Ex.: Ouvi um som estranho. Sentada na praia, ouvia o mar e não percebia as vozes próximas.    Escutar está ligado a auscultare (latim):  ouvir com atenção, ou com muita atenção.  É o caso do que ocorre nas consultas com cardiologistas: eles não ouvem nosso coração; eles o auscultam. Ex.: Naquela tarde ouvia o mar, mas não o escutava.   Na reunião sobre aumento de preços, quase todos ouviram o que Pedro sugerira; poucos o escutaram. 

O segundo grupo (falar, dizer, conversar) está ligado à elocução, às partes envolvidas e ao interesse delas no processo da comunicação.  Falar  restringe-se a abrir a boca e emitir sons; dizer  é o conteúdo da fala; conversar envolve troca de opiniões.  Assim, é conhecida a frase:  "Esteve aqui, falou, falou, falou e não disse nada." Ou esta, quando a pessoa usa poucas palavras e comunica o que pretende: "Falou e disse."  Vamos ao exemplo de reforço:  Na reunião falamos sobre a contratação de pessoal técnico. Muitas coisas foram ditas, mas poucas, discutidas.  Precisamos voltar a conversar sobre isso.

Questões semânticas exigem percepção e treino.  O que nos parece estranho,  num primeiro momento, acaba tornando-se comum com o emprego e a repetição. Se for correto, melhor ainda. 

Escute o que digo  e você se sairá bem a cada nova elocução. 

Boa semana!

domingo, 10 de maio de 2015

Todo homem e Todo o homem

Indefinidos: todo(s), toda(s); todos os, todas as; tudo


Observe estas construções: 

Todo homem é mortal. Todos os homens são mortais. Todo o homem é mortal.  

Essas orações têm significados diferentes.  

Quando empregamos  o pronome indefinido (todo, toda) seguido imediatamente de um substantivo, conferimos ao substantivo uma generalidade dentro de uma totalidade; assim: 
           Todo homem é mortal.  =  espécie humana 
            e equivale a dizer: 
           Todos os homens são mortais

Não nos referimos aos homens do sexo masculino, mas à generalidade, à espécie humana. Por isso mesmo, não há necessidade de se dizer 'Todos os homens e todas as mulheres são mortais'. Embora existam adeptos da variação masculino - feminino (que acreditam ser o "politicamente correto"), o masculino plural indica a generalidade.  Do mesmo modo que dizemos: 
          À noite, todos os gatos são pardos. = felinos são pardos 
          e não:  gatinhos são pardos e gatinhas não. 

Mesmo no feminino, o indefinido (toda) seguido imediatamente do substantivo confere a esse a generalidade dentro da totalidade: 
          Toda matéria inerte será considerada para estudo. 
          equivalente a:
          Todas as matérias inertes são objeto de estudo. 

Ao empregarmos o  indefinido singular (todo, toda) seguido imediatamente de um artigo definido (o, a), passamos da generalidade para a particularidade na totalidade: 
          Todo o homem é mortal. = o homem inteiro é mortal; cada pedaço dele, de sua                    integridade é mortal: cabelos, músculos, unhas...

          Toda a matéria vista em sala fará parte da prova. = cada item que compõe essa                   matéria fará parte da prova.  

E equivalem (todo o, toda a) a um tudo: 
          Tudo será considerado na proposta. =  Todas as necessidades e custos serão                       considerados.  

Importante: quando o tudo vier seguido de um "o", esse "o" é um pronome demonstra-
tivo(=aquilo).  Não são palavras masculinas, mas vestígios de neutros (peço perdão aos gramáticos que não concordarem) na Língua Portuguesa. Assim teremos: Tudo o que vimos são desafios., equivalente a Tudo aquilo que vimos são desafios

É preciso observar e rever seu emprego. Têm sido motivo de enganos nas redações de concursos públicos e em textos de publicidade. 

Para terminar, estas duas construções corretas: 

            "Tudo vale a pena se a alma não é pequena." (Fernando Pessoa)  
            "(...) todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus,..."                           (Romanos 8:28)  


Parabéns a todas as mães presentes, passadas, futuras e potenciais.

Boa semana!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Acentuação (I)

     Acento diferencial em verbos

Acentos não são enfeites sobre as vogais. Eles também têm uma história a contar e justificam-se não pelas regras, como se costuma julgar, mas por sua importância para o leitor e falante.  Eles são, em primeiro lugar,  orientadores da pronúncia aberta (é, ó) ou fechada (ê, ô) e da sílaba tônica (bia, sabia, sabiá).  Hoje não  tratarei da marca da nasalidade, o til (~) que não é acento. Esse será assunto para uma outra vez. 

Em segundo lugar, existem acentos que usamos para diferençar formas: classes gramaticais (ex.: pôr - verbo x por - preposição); flexão (ex.: ele tem x eles têm). É exatamente sobre esse ponto que vamos trabalhar hoje. 

Como a Língua Portuguesa dispensa, na maioria dos casos,  o sujeito representado pelo pronome do caso reto (eu, tu, ele, ...), haveria ambiguidade se escrevêssemos: 

          Vinicius e Thaís estão interessados no assunto, enquanto Rose prefere
          Finanças. Tem-se esforçado para obter mais informações para a reunião.

A quem o "tem-se" se refere:  Vinicius e Thaís? ou Rose? No singular (tem), espera-se que seja à Rose. Se for a Vinicius e Thaís,  será plural (têm).  Por isso existe esse acento diferencial.  

Como ocorre no verbo-base "ter", no plural dos seus derivados também haverá: 
                   ele tem        x         eles têm
                  ele detém               eles detêm
                  ela retém                elas retêm
                  ela sustém               elas sustêm

Isso acontece também no verbo "vir" e seus derivados: 
                    ele vem       x        eles vêm
                   ele convém           eles convêm
                   ela provém            elas provêm 
                   ela intervém          elas intervêm

Nunca será demais pedir-lhe: convém prestar atenção nas pequenas coisas. Elas intervêm na imagem de quem escreve. 

Boa semana!

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A propósito da conjugação do verbo "vir" e seus derivados, consulte: 
http://www2.tvcultura.com.br/aloescola/linguaportuguesa/morfologia/verbos-conjugacaoverbal-verbovirederivados.htm  e 
RYAN, Maria Aparecida. Conjugação dos verbos em Português. Ensino médio- integrado. 17.ed., São Paulo: Ática, 2000.