domingo, 13 de setembro de 2015

Sintaxe: acréscimos desnecessários

Hoje enfatizo algumas construções (incorretas) muito comuns nos trabalhos que li recentemente e na boca de alguns palestrantes que ouvi.  O assunto não é novo: havia tratado dele na postagem de 12.07.2015, sob o título "O quê e a falsa regência". 

Em nossos discursos orais, costumamos empregar mais palavras de reforço do que nos escritos.  Isso se deve ao fato de haver necessidade de firmarmos conceitos, explorarmos explicações que têm de ser fixadas nesse tipo de comunicação.  Embora nos cerquemos da linguagem não-verbal para completar lapsos de vocabulário e de memória que possam ocorrer em nossa comunicação, repetimos vocábulos e estruturas, além de criarmos âncoras (marcadores conversacionais) para mantermos o interesse do nosso ouvinte - ou ganharmos tempo para a construção do próximo pensamento e elocução. 


Parece complicado o que acabei de afirmar? Talvez este diálogo possa esclarecer: 

          - Então, Pedro, o que foi decidido?
          - Bem, na verdade, ainda não houve decisão... Hummm, talvez mais tarde, bem, temos de decidir logo,  mesmo porque não podemos esperar mais. 

Essa é a expressão da oralidade seguida, certamente, de gestos, expressões faciais, tonalidades de voz, apesar de não registramos - por escrito - o conteúdo do diálogo dessa forma.  E não podemos nos esquecer de que, à custa de tanto usarmos determinadas palavras, construções  e expressões na língua oral, acabamos por registrá-las por escrito. 

Você se já ouviu empregando as expressões abaixo? ou as leu nos seus textos escritos? 

                    mesmo porque, até porque, quase que, enquanto que...

Todas elas trazem acréscimos desnecessários para a compreensão dos textos, além de estarem com erros de construção.  Diretamente ao ponto: 
          mesmo porque - porque é conjunção e, na L.Portuguesa, não existe palavra que 
          caracterize conjunção; assim, o correto é usar apenas porque;
                   
          até porque  - mesma explicação; a preposição "até" não se justifica ao lado do 
          porque;
          
          quase que - quase  é advérbio e, na L.Portuguesa, não existe palavra que a 
          caracterize.  O  que é uma das âncoras de que falamos acima; basta empregar 
          apenas o quase; 
                   
          enquanto que  - enquanto é conjunção com valor temporal. Não há o emprego 
          com o  que.  A existência dele, ao lado do enquanto,  só se justifica como âncora. 
          Use apenas a conjunção. 

Veja agora, as construções erradas e, em seguida,sua redação correta; 

Errado:   Não discutiremos até sábado, mesmo porque a reunião foi marcada para sexta.
Correto:  Não discutiremos até sábado, porque (pois) a reunião foi marcada para sexta. 

Errado:   Estudaremos amanhã, até porque depois de amanhã será a prova.
Correto:  Estudaremos amanhã, porque (pois) a prova será depois de amanhã. 

Errado:   Quase que eu contei as alterações propostas. 
Correto:  Quase contei as alterações propostas.

Errado:   Faça o esboço da proposta, enquanto que eu refaço os cálculos. 
Correto:  Faça o esboço da proposta, enquanto refaço os cálculos.    

Como pode ver, a linguagem simples, sem afetação, é sempre a melhor e mais fácil de ser construída.  Separe da escrita a língua oral, quando precisar apresentar um nível melhor de linguagem.

Boa semana, com bons textos. 

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