Você sabe o que é um gerúndio? E para que ele serve?
Vamos à gramática: é a forma verbo-nominal de ação delongadora. Traduzo: ele tanto serve como verbo (é verbo na origem, portanto ação) quanto nome (forma sintática adverbial) com aspecto delongador (ação em desenvolvimento). Exs.:Estamos conversando há duas horas. (ação em desenvolvimento no momento da fala)
Eles estão viajando e só voltarão na próxima semana. (ação em desenvolvimento)
João estava visitando a fábrica, quando você telefonou. (idem)
Chegando ao escritório, ligue para mim. (= quando você chegar...> valor adverbial)
Quando seu emprego é impróprio, então?
Na prática, quando não for empregado nas situações acima, principalmente por má tradução dos textos em inglês com o gerúndio -ing das falas de telemarketing : I'll be sending you tomorrow (Mandarei a você amanhã), We'll be calling (ou we'll call) him later (Nós o chamaremos/telefonaremos para ele mais tarde).Por que isso ocorre?
Pelo uso abusivo dessas formas ouvidas e lidas a todo momento, o contágio é inevitável. A outra possibilidade de interpretação é a que consiste numa intenção de quem fala (ou escreve). Cabe a nós, sabendo da impropriedade, vigiar-nos e, principalmente, procurarmos outras formas que sejam da Língua Portuguesa: empregue o futuro ou o imperfeito, tempos mais adequados às relações nessas construções. Exs.:Nós estávamos visitando a fábrica, quando o diretor chegou.
Melhor: Visitávamos a fábrica quando o diretor chegou. (imperfeito indica ação em desenvolvimento quando uma outra ocorre)
Eles prometeram que estarão enviando o material amanhã. (eles não vão ficar enviando, enviando, enviando...)
Melhor: Eles prometeram que enviarão o material amanhã.
Cuidado: quanto mais verbos você juntar em formas duplas (vão enviar, estarão enviando) ou triplas (vão estar enviando) ou a horrível quádrupla (vão poder estar enviando) mais se afastará da objetividade textual e da confiabilidade do significado que deseja passar ao interlocutor. A propósito veja o hilário (e exagerado, claro!) texto "A invasão dos gerúndios assassinos" (1) de David Cohen, para sensibilizar aqueles que podem estar falando uma língua estranha (e descuidada) a todo momento. E aproveite para ler um pouco mais a respeito de outros descuidos tanto da língua oral, quanto da escrita (2), como um reavivamento das formas desprestigiadas na língua escrita, principalmente nas linguagens empresarial, técnica, acadêmica e científica.
Veja que você pode usar gerúndios, desde que bem empregados, claro. É uma forma legítima da Língua Portuguesa, embora nossos descobridores prefiram infinitivos: estou a acabar por aqui, pessoal.
Boa semana!
___________
(1) https://portalesafaz.sefaz.pe.gov.br/moodle/cursos/Curso_Redacao_Oficial/red_mod1/gerundios_assassinos.pdf
(2) https://portalesafaz.sefaz.pe.gov.br/moodle/cursos/Curso_Redacao_Oficial/red_mod1/revista_veja.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário