domingo, 12 de julho de 2015

O "quê" e a falsa regência

Em nossos textos (orais e escritos) usamos e abusamos dos "quês".  Eles são muito práticos e ajudam-nos na coesão sintática. Na língua oral, especialmente, prendemos a atenção de nossos ouvintes à espera de uma continuidade do discurso. 

Na língua escrita, entretanto, devemos ter muita cautela em seu emprego, pois o uso abusivo leva o leitor ao cansaço e à ambiguidade textual. Ex.: O livro do aluno que estava na sala de música foi visto na sala de ginástica.

Além do desconforto do trabalho de ressignificar o texto e encontrar seu verdadeiro objetivo, perdemos a linha condutora da informação e gastamos mais tempo na comunicação, o que lhe contraria as qualidades básicas desejáveis: objetividade, clareza e concisão.

Como dissemos em várias aulas sobre construção textual, o ideal de uma mensagem forte, impressiva, convincente está em empregarmos um"quê" a cada três linhas (folha A4, fonte arial, tamanho 12). A cada novo "quê" acrescentado, abre-se a oportunidade de  novas interpretações e riscos de derivações e divergências. 

Além desse inconveniente, devemos ter cuidado com outros "quês" e seus correlatos (porque, já que,...). Eles se juntam, sub-repticiamente (com hífen), a outros vocábulos  formando construções condenáveis em redações nas quais se exige qualidade e correção.  Vejam estas impropriedades morfossintáticas:  
          mesmo porque, até porque, quase que, enquanto que.

Estão erradas, portanto, estas ocorrências: 
          O sistema de saúde no Brasil é falho,  mesmo porque faltam médicos e instalações             decentes para a prática da Medicina. 
          Deixamos de atender o cliente até porque ele atrasou o pagamento neste mês. 
          Ele quase que contou, na reunião, o que sabia sobre a proposta do concorrente.
          Entregaremos parte do pedido, enquanto que o resto vai sendo produzido.   
           
As corretas - e desejáveis - estão aqui:

          O sistema de saúde no Brasil é falho, porque faltam médicos e instalações                               decentes para a prática da Medicina. 
          Deixamos de atender o cliente porque (ou pois) ele atrasou o pagamento neste                          mês. 
          Ele quase contou, na reunião,  o que sabia sobre a proposta do concorrente.
          Entregaremos parte do pedido, enquanto o resto vai sendo produzido.

Aqui vai um convite para esta semana:  procure retirar os excessivos "quês" de sua comunicação escrita.  Você verá, aos poucos, não apenas os gerúndios e as frases longas deixarem seu texto e darem lugar à concisão, clareza, objetividade, simplicidade, como também uma comunicação sadia e gratificante nascer em seu lugar.  

Boa semana!



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