Em nossos textos (orais e escritos) usamos e abusamos dos "quês". Eles são muito práticos e ajudam-nos na coesão sintática. Na língua oral, especialmente, prendemos a atenção de nossos ouvintes à espera de uma continuidade do discurso.
Na língua escrita, entretanto, devemos ter muita cautela em seu emprego, pois o uso abusivo leva o leitor ao cansaço e à ambiguidade textual. Ex.: O livro do aluno que estava na sala de música foi visto na sala de ginástica.
Além do desconforto do trabalho de ressignificar o texto e encontrar seu verdadeiro objetivo, perdemos a linha condutora da informação e gastamos mais tempo na comunicação, o que lhe contraria as qualidades básicas desejáveis: objetividade, clareza e concisão.
Como dissemos em várias aulas sobre construção textual, o ideal de uma mensagem forte, impressiva, convincente está em empregarmos um"quê" a cada três linhas (folha A4, fonte arial, tamanho 12). A cada novo "quê" acrescentado, abre-se a oportunidade de novas interpretações e riscos de derivações e divergências.
Além desse inconveniente, devemos ter cuidado com outros "quês" e seus correlatos (porque, já que,...). Eles se juntam, sub-repticiamente (com hífen), a outros vocábulos formando construções condenáveis em redações nas quais se exige qualidade e correção. Vejam estas impropriedades morfossintáticas:
mesmo porque, até porque, quase que, enquanto que.
Estão erradas, portanto, estas ocorrências:
O sistema de saúde no Brasil é falho, mesmo porque faltam médicos e instalações decentes para a prática da Medicina.
Deixamos de atender o cliente até porque ele atrasou o pagamento neste mês.
Ele quase que contou, na reunião, o que sabia sobre a proposta do concorrente.
Entregaremos parte do pedido, enquanto que o resto vai sendo produzido.
As corretas - e desejáveis - estão aqui:
O sistema de saúde no Brasil é falho, porque faltam médicos e instalações decentes para a prática da Medicina.
Deixamos de atender o cliente porque (ou pois) ele atrasou o pagamento neste mês.
Ele quase contou, na reunião, o que sabia sobre a proposta do concorrente.
Entregaremos parte do pedido, enquanto o resto vai sendo produzido.
Aqui vai um convite para esta semana: procure retirar os excessivos "quês" de sua comunicação escrita. Você verá, aos poucos, não apenas os gerúndios e as frases longas deixarem seu texto e darem lugar à concisão, clareza, objetividade, simplicidade, como também uma comunicação sadia e gratificante nascer em seu lugar.
Boa semana!
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