sábado, 13 de junho de 2015

Femininos com -s- ou -z-?

Uma dúvida ortográfica

Começamos a conversar sobre  nossa ortografia em fevereiro de 2015. Hoje será nosso segundo encontro  a respeito dela. 

Um jovem aluno executivo pergunta-me:  Por que há substantivos cujo feminino é feito com "s" em vez de "z"?  Respondo: Tudo depende da sua origem, da etimologia.  Explico. Voltemos ao Latim, base da formação de nossa grafia. Em Latim, os vocábulos eram grafados com "s".  O "z" aparecia em vocábulos vindos do Grego para o Latim, em início de nomes próprios: Zeus, Zenão, Zêneca, Zenith, ... 

Grafam-se com "-ês" (masculino) ou "-esa/-isa" (feminino), os substantivos que indicarem: 
   a. nacionalidade - português, portuguesa; francês, francesa; japonês, japonesa...;
   b. classe social - burguês, burguesa, burguesia; freguês, freguesa, freguesia...; 
   c. títulos de nobreza - príncipe, princesa; marquês, marquesa; barão, baronesa*...;
   c. profissões femininas - profeta, profetisa; píton, pitonisa**; sacerdote, sacerdotisa,...

Esses substantivos guardam sua origem (latina ou grega) como em mesa, casa, rosa, vaso, glicose, análise, pesquisa, ... 


Grafam-se com "-ez" ou "-eza" os substantivos  abstratos formados com base em adje- tivos:  
          surdo > surdez; rápido > rapidez; gago > gaguez; pequeno > pequenez;  
          belo > beleza; lindo > lindeza; limpo > limpeza; triste > tristeza; ... 

Ortografia tem história... 

Haverá quem pergunte: E juíza? É profissão feminina, no entanto grafa-se com "z". Bem, juíza é feminino de juiz, grafado com "z" pela etimologia, também.  Por quê? Veja a história da palavrinha. 

O vocábulo "juiz" em latim era judicem.  Na boca do povo, o -"m" deixou de ser pronunciado (como também hoje tem acontecido em Português, em homem, ontem, jovem, garagem,...). Gerou-se uma forma judice, cuja sílaba tônica era o "di", pronunciada alongadamente.  O que se ouvia, então era um final "ss" > judiss.  O"d" intervocálico deixou de ser pronunciado e, por isso, surgiu juiss.  Como não existem palavras em Português terminadas por dois esses (ss), convencionou-se que esse som duplo final seria grafado "z". Abaixo, o esquema da evolução do vocábulo: 

          judicem > judice > judiss> juiss > juiz

E o feminino, por isso, fez-se com o acréscimo do "-a" à forma masculina: juiz > juíza.

Precisarei estudar Latim para saber tudo isso?  Bem que eu gostaria que fosse possível, mas não o sendo (gostou?), permita-me uma dica que eu ensinava aos meus alunos de segundo e terceiro anos da escola fundamental: busque a família da palavra. Se em alguma das derivadas houver um "c" (original do Latim), nesse local nasceu tardiamente um "z".  Veja: 
      
           veloz (velocem) >  velocidade, velocípede, velocímetro
           feliz (felicem) >  felicidade, infelicidade, felicíssimo;
           voraz (voracem) > voracidade; 
           luz  (lucem) > lucidez, lúcido e, finalmente, o nosso 
           juiz  (judicem) > judicial, judiciário.  

Como vê, é muito linda e rica nossa história linguística, não?  Mas, por hoje, basta. Quero que você ame nossa língua tanto quanto amo. E até mais um pouco de Latim  você aprendeu aqui...  

Pode exibir-se. Faz parte do aprender e saber. 

Boa semana.  

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* Importante: conde > condessa; visconde (vice+conde) > viscondessa são formas que vieram do Italiano para o Português e, por isso, grafam-se com dois esses (ss).
** "Os gregos davam o nome de Pitonisas a todas as mulheres que tinham a profissão de adivinhas, porque o deus da adivinhação, Apolo, era cognominado de Pítio, quer por haver matado a serpente-dragão Píton, quer por ter estabelecido seu oráculo em Delfos, cidade primitivamente chamada Pito. A Pitonisa era a sacerdotisa do oráculo de Delfos."  Disponivel em: http://www.dicionarioinformal.com.br/pitonisa/ . Acesso em 07.06.2015 à 1h05. 

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